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Textos avulsos

UM TEATRO QUE VIROU SUPERMERCADO. EM VENEZA

Veneza tem muito charme e umas coisas esquisitas. Por exemplo, quando te disserem que é logo ali, mesmo para um mineiro pode saber que vai andar pelo menos uns dois quilômetros por becos (que aqui se chama calle, e chega a ter um metro ou menos de largura), praças (campo) e pontes, muitas pontes. Aliás, eles contam a distância por pontes. Não importa se tem uma a dez metros da outra ou a 500 metros. A distância é medida pelo número de pontes.

O Teatro Italia é esse predio prédio lindo, majestoso que fica numa Praça bacaninha também, em pleno buchicho turístico de Veneza. Fiquei sabendo que foi construído em 1915, por um arquiteto moderninho da época que, ao contrário dos nossos brasileiros, resolveu não inventar e o estilo é o dos antigos prédios de Veneza (alguns milenares, como parece ser esse em que estou, mas é de apartamentos). Pois bem: como o teatro fica no meu caminho de casa (aliás é a referência para eu não me perder), fiquei curiosíssima para conhecê-lo. Imaginando como deveria ser chique, com muito veludo e ouro, como costumam ser os prédios dos ricos aqui em Veneza (e aqui tem rico pacas).

Hoje estava aberto e gente entrando e saindo. Me animei, entrei e…..

É um supermercado!!!!!

As paredes pintadas por um tal de Alessandro Pomi, afrescos lindos, foram mantidas, mas no lugar de palco, coxias e platéia tem gôndolas (as de supermercado, não das de Veneza) com material de limpeza, de higiene e comida, muita comida com cara muito boa. As frutas, os legumes, as verduras que parecem pintadas pelo tal do Pomi e os presuntos, salames e outros que tais nos quais os italianos são mestres. As gondolas (de supermercado) estão depois deste texto.

Fiquei sabendo também que o Teatro Itália já foi até teatro mesmo, com apresentação de peças e concertos. Mas foi cinema, prédio de escritórios, sede do DCE (ou o que seja aqui) de uma universidade veneziana e agora é um supermercado chique.

Confesso que fiquei meio… meio… nem sei o quê.

Certamente alguém mais espirituoso que eu vai achar o que dizer disso. Eu juro que estou meio chapada. E ainda reclamam que nossos governantes e nossos artistas, que não deixam teatro deixar de ser teatro.

Ou será que supermercado é cultura também? Ao menos aqui na Itália.

Cartas para a redação…

Ps- Andar em Veneza é uma aventura. Eu já estou me sentindo local. Já tenho dois amigos, Roberto, lindíssimo dono da Trattoria Vitória, que foi fundada pelo avô dele e um outro cara que tem um bar no caminho de onde estou. Ontem, tive problema com a chave de onde estou, precisei usar a internet dele e ainda ganhei um copo de vinho.

Afora os homens bonitos e simpáticos, há um problema: a gente nunca acha as pontes, becos e passagem sob os prédios no mesmo lugar. Loja e edifício então, desista, quando você quiser voltar para casa, elas não vão estar onde você os deixou foi. Imagina se você passou ontem.

Acho que os Incas Venezianos (primos dos Incas Venusianos do Nacional Kid) saem toda noite para trocar as coisas de lugar e a gente se perder. Mas é para o bem. Porque aí você como uma pasta maravilhosa (a minha preferida é taguiglione in nero di sepia, que é esse macarrão que não consigo pronunciar o nome com molho da tinta da Lula) e não engorda porque anda, anda anda e anda…

Ah, ontem choveu, mas hoje está bonito e quente. Inté.

Publicado no facebook em 24 de abril de 2019

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